Semana
passada, na Estação das Docas, uma mãe, acredito que turista, reclamava
da ausência de um fraldário no local. Tivera que trocar a fralda de seu
bebê na pia do banheiro. A mulher ainda indagou se arquitetos e
engenheiros responsáveis pela obra não imaginaram que por ali seria
grande a circulação de crianças. Não falei, mas pensei, e agora
escrevo, que em Belém criança sofre!
Os prédios públicos não contam com banheiros e espaços próprios
para crianças. Não há praças suficientes para elas passearem aos
domingos (ou em qualquer outro dia), as poucas que existem são mal
arborizadas, quentes, sujas e sem brinquedos adequados.
No dia do Círio, sob um sol escaldante e sufocadas pela
multidão, são levadas para acompanhar a procissão, algumas – extremo
sacrifício! – com suas desconfortáveis e calorentas vestes de anjos.
À noite, nos bares, restaurantes e outros programas que
deveriam ser exclusivamente adultos, estão lá, dormindo por cima das
mesas, chorando aos pés dos pais (e ao alcance de nossos ouvidos),
implorando para voltarem para casa.
Nas ruas da cidade, também as encontramos, cheirando cola,
cuspindo fogo, pedindo esmolas, se prostituindo, algumas com outras já no
ventre, e nós e as autoridades responsáveis, passando indiferentes.
Que Nossa Senhora de Nazaré nos perdoe e nos ilumine para
que tenhamos mais amor e respeito por nossas crianças, e que os
governantes não esqueçam de, ao menos, dar a esperança de um futuro
melhor para elas.
Estatuto da Criança
e do Adolescente
23.10.2004 |