Não  chore  por  mim,  presidente!  

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Sandra Mara Devincenzi da Silveira da Silva
Professora, Socióloga e acadêmica de Direito pela URCamp/Alegrete 

          Após o assassinato de Júlio César, Brutus, ainda com o punhal pingando sangue tenta justificar que matou por amor a Roma. Registra a História que, perguntado porque alçara a mão contra César, teria dito: “Não foi porque o amasse menos, mas porque amava mais a Roma. Eu o reverenciava por ser bravo, mas o detestava por ser ambicioso”.

Por sua vez, Marco Antonio, depositando o corpo no chão, dirige-se ao povo: ”Eu vim enterrar César, não chorá-lo. Brutus diz que César era ambicioso e a ambição, romanos, deve ser algo mais temível e menos humano. Este foi o golpe mais cruel de todos, pois quando o nobre César viu Brutus apunhalando, a ingratidão, mais forte que o punhal dos traidores, o derrotou completamente, e o seu poderoso coração partiu-se. Ó que queda foi aquela, cidadãos romanos: eu, vós, nós todos caímos neste instante, enquanto a traição sangrenta crescia sobre nós”.

Esta é uma visão real. Realidade do que foi. A realidade não é aquilo que se gostaria que fosse ou se pensasse que seria. A realidade simplesmente é o que é, ainda que não  agrade ou não  fascine.

Entretanto, a visão da realidade não deve assassinar os sonhos, os ideais e as ilusões.  Veja-se e toque-se a realidade, ainda que incrédulos ou feridos, para não perecer antes da morte chegar, pois ela é como a luz do sol que nos fere a retina forçando que abaixemos os olhos, mas impossível de negar.

O ser humano é itinerante, caminhando sempre atrás de uma ou muitas esperanças e a cada uma conquistada outra surge para ser alcançada.

Esta é a boa-fé humana, contrapondo-se a má fé, viciosa e maléfica, e que se mantém pela ignorância, pela injustiça, pela covardia e pela imprudência.

Sócrates afirmava que a capacidade intelectual não era incompatível com a honestidade e o patriotismo e que as pessoas de talento não estavam isentas do cumprimento de seus deveres de cidadãos. Censurou a ignorância e a incapacidade dos políticos de seu tempo. As imperfeições humanas para o filósofo, estavam associadas à falta de conhecimento. Daí condenar as assembléias compostas por sapateiros, pedreiros, metalúrgicos, porque lhe espantava ver as cidades governadas pela ignorância.

Platão, por sua vez, revoluciona na sua legislação política, sobre os princípios aristocráticos, franqueando a todos as oportunidades tomando por norma de seleção a preponderância do método e das aptidões individuais. Em seu pensamento a ânsia irreprimível de enriquecer provoca o aparecimento de parasitas, libertinos, ociosos premunidos de dívidas, outros de infâmias, muitos de ambas as coisas, mas todos saturados de ódio. Surge, então, a democracia que se arruína pela sede insaciável de liberdade que se degenera em ilegalidade.

De tudo isso se vê a busca incessante pela ética, pela ordem, pela virtude, lembrando a forma purificada dos estóicos de um Estado único onde o Direito Natural tenderia a se efetivar espontaneamente prescindindo-se de leis.

Quão distante andam nestes tempos o reto dever e a moral dos deveres! Nem por isso se pranteie o povo brasileiro, pois as lágrimas choradas – por rios que escorram – não serão suficientes para lavar o sangue do manto de Júlio César.      

16.04.2006 

Fonte: Remetido por e-mail pela autora

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