A INOPERÂNCIA DO ESTADO BRASILEIRO |
Carlos Soares
Advogado e Escritor na cidade
gaúcha de Porto Alegre, RS
O Estado brasileiro, principalmente nos últimos anos dos governos Fernando Henrique e Lula, vem demonstrando de forma inequívoca o que disse de nós em 1962 o presidente francês Charles De Gaulle (1890-1970): “O Brasil não é um país sério”*. Queria dizer [politicamente] com isso que aqui a Ordem e o Progresso não funcionam a contento ou, quando funcionam, é precariamente, igual a quase nada. Ou, pior ainda: só funcionam em benefício de uma minoria. Peguemos
apenas um fato. A questão de processar, apurar e punir políticos
corruptos, corruptores, empresários clientelistas do governo ou de
partidos no governo, e outros bucaneiros que arremetem sem cessar contra
o erário público, deixando a nação desfalcada, sem lenço nem
documento, não tem paralelo em nenhum outro país do mundo. A
imprensa denuncia; a população acompanha passiva, as CPIs comprovam;
toneladas de documentos confirmam as fraudes, os roubos, a orgia com o
dinheiro público e, no entanto, ninguém é punido: seja porque a
burocracia da lei leva tanto tempo para se realizar, que a pena acaba
prescrita, ou empaca no foro privilegiado que eles detêm, seja porque o
jogo de interesses dos que vão julgar, ou comandar as Comissões
Parlamentares de Inquérito é maior que os interesses do povo, pela
armadilha do “rabo preso” ou “telhado de vidro”, seja, enfim, pela
própria estrutura de poder estatal (Legislativo, Judiciário e Executivo)
totalmente corroída em suas bases e definitivamente comprometida com esse
estado inglório e nefasto de coisas, a verdade é só uma: ninguém vai
preso, ninguém é punido e, pior: o corrupto às vezes perde o cargo, mas
retorna vitorioso – nos votos das próprias vítimas – outra vez aos
esquadrões da política, pronto para mais um saque monumental aos cofres
públicos. Casos
típicos, an passant? Collor
& Maluf, Maluf & Collor. Não daria uma bela dupla
sertanojo?! Se fôssemos criar oficialmente uma escola de crimes contra o
patrimônio público, no Brasil, não teríamos alunos, só
professores... E as aulas seriam todas práticas, em um alucinante “toma
lá, dá cá”... Tal
situação (insustentável) gera uma atmosfera de “oba, oba”, de
“corrida pelo ouro”, o país vira um faroeste tupiniquim onde o mais
esperto dá as cartas, dá o corte, dá um fim nas verbas orçamentárias
e finalmente dá no pé. A
impunidade é a mãe dileta da injustiça. Peguemos um dos exemplos típicos
acima: Caso Maluf. A PF investigou e apurou minuciosamente (busquem
reportagem da revista Veja) vasta documentação comprovando desvios
assustadores de verbas através de obras públicas superfaturadas e
outros expedientes não menos eficazes de assalto, porém, um dos grandes
processos a que respondia, foi arquivado em função da idade!
A Justiça Federal extinguiu a punibilidade dele na ação penal
(crime de evasão de divisas), por ter mais de 70 anos, beneficiando-o com
uma lei que reduz pela metade o tempo em que alguém pode ser processado. “E
eu fico como?”, como diz o personagem Juninho (Júlia) do Zorra Total,
da Rede Globo. Tinha ou não tinha razão o De Gaulle? Ainda cabe
perguntar: essa extinção de punibilidade tem o efeito de evitar que as
autoridades providenciem a volta do dinheiro roubado, evadido para paraísos
fiscais, aos cofres de origem, uma vez apurado e comprovado o crime? É óbvio
que não! O Estado deve perseguir ad eternitate* o patrimônio fraudado,
sob pena de responderem também a crime de omissão e outros, as
autoridades administrativas e representativas da República. *
“Le Brésil n'est pas un pays sérieux"” (alguns historiadores
tentam atribuir a frase ao embaixador brasileiro na França, Carlos Alves
de Souza). * “Até a eternidade”. 31.08.2007 |
Fonte: Remetido por e-mail |
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