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 SANDRA SILVA 
Cientista Política, Socióloga, acadêmica de Direito
 

                           

            Já não vivemos mais o estágio da violência. Estamos à beira do caos, do abismo, de um profundo buraco sem luz que espreita a possibilidade de nos engolir sem qualquer piedade. À semelhança daquela cratera que se abriu na cidade de São Paulo e que destroçou vidas e patrimônios.

O último espetáculo do estágio de selvageria que se encontra a sociedade brasileira traz a história da criança que foi arrastada como boneco de pano após ter ficado presa pelo cinto de segurança em automóvel tomado de sua mãe por bandidos no campo de guerra que se transformou o Rio de Janeiro. Ficou em pedaços que foram juntados como restos de carne de um animal devorado por outro. O leitor consegue imaginar a cena de terror? Um dos selvagens é inimputável. “É di menor”. Protegido pela lei penal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Pobrezinho, ainda não tem condições de discernir os atos. Ou é resultado de uma sociedade de exclusão. Por Deus! Não precisamos ter pena de morte, mas precisamos trancafiar essas anomalias humanas.

Bebês no lixo, estupros, homicídios, latrocínios, saques, rixas em estádios de futebol, são situações que têm tornado a vida dos cidadãos brasileiros um calvário infernal. Não temos mais tranqüilidade física e emocional. Não temos certeza de nada.

O Estado brasileiro mantém atitude tímida de combate a essas ações que já estão nas raias do absurdo e do suportável. Milhares de reais estão sendo consumidos diariamente para estabelecer a ordem, mas a cada dia se vê mais desordem.

Veja-se a dita Força Nacional que no mês de janeiro se deslocou para o Rio de Janeiro para buscar diminuir a truculência contra a sociedade organizada. Não estava preparada e nem treinada eis que até agora foi pífia sua atuação. Ao ponto dos instrutores ridicularizarem seus integrantes e a mídia televisiva mostrar cenas hilárias donde qualquer cidadão por menos que entenda do assunto percebe que os componentes não têm capacitação para ações desse porte. Estamos ferrados!

O momento nacional é grave em vários segmentos, mas os brasileiros parecem não se aperceberem disso. Não há indignação, não há movimentos sociais que imponham aos governantes maior celeridade no controle do caos. As pessoas se calam, discutindo à boca pequena as dificuldades, as dores e as perdas.  Não há, então, como se deixar de lembrar Martin Luther King dizendo “o que mais preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.

Olha-se o outro lado do mundo discutindo os problemas alheios porque isso é cômodo e não se precisa tomar posição. Enquanto isso a nossa casa desmorona, nossos representantes pouco se preocupam com o bem-estar social apesar de se colocarem para a mídia como verdadeiros avatares do bem, aumenta a falta de oportunidade empregatícia, os serviços universais de saúde decrescem em velocidade espantosa, os organismos bancários nos espoliam com juros à revelia da Constituição.

Somos escravos! De nossa própria condescendência com tudo que sabemos que não está correto, mas que aceitamos sem qualquer gesto de aversão.

13.02.2007 

Fonte: Remetido por e-mail

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